Meus caminhos por Buenos Aires

O texto de hoje poderia ter vários focos, porque o dia foi intenso e pela primeira vez andei sozinha por Buenos Aires e quando digo Buenos Aires, quero dizer além dos limites da capital federal. Estive em San Miguel, um pouco mais de 40 km do centro de Buenos Aires. Lá, Pedro Moreira, um senhor de 78 anos pertencente ao povo indígena Quechua Aymara, mantém a Biblioteca Inti-Huasi para preservar a história dos povos originários.

Mas antes disso, fui também ao bairro Almagro, sul de Buenos Aires tentar falar com os responsáveis pela rádio comunitária La Tribu e da Barricada TV. Tive sucesso apenas na primeira, mas valeu para conhecer a região e se familiarizar com o local e hoje, principalmente, conhecer a estrutura do transporte público de toda Buenos Aires. Para quem está no centro, andar a pé é uma das melhores opções, mas para bairros mais distantes e outras províncias o melhor é usar o Metrô, que se chama Subte, e o Trem, que se chama Trene mesmo.

A rede de metrô aqui tem 6 linhas, nas mesmas cores das de São Paulo praticamente. Hoje usei duas linhas, para ir até Almagro a Linha B – Vermelha, que segue toda a Avenida Corriente. E depois na volta fiz uma transferência gratuita para a Linha C – Azul, que nos leva até as estações de trem da cidade, no bairro Retiro. A viaje de metrô custa 5 pesos.

Ao contrário do Brasil, as estações de trens ficam separadas por destino, uma ao lado da outra, mas cada uma tem sua própria entrada e bilheteria. Assim que sai da estação Retiro do metrô, a primeira estação de trem é a Mitre, depois vem a Belgrano e por último a San Martín. O terminal de ônibus intermunicipais também fica no mesmo lugar, logo depois da estação San Matín. A passagem varia, mas no meu caso que peguei a San Matín para São Miguel paguei 6 pesos.

Quer dizer, paguei só na volta, porque olhem só a situação. Na ida, a atendente da bilheteria disse que não havia passagem. O que pensar? Não tem mais passagem para essa viagem e vai ter para outra. A realidade? Não entendi nada do espanhol dela e fui perguntar para um jornaleiro. Quando eu disse que não havia passagem, ele disse: Entonces vá! Indicando a plataforma e quando vi umas dezenas de pessoas correndo para embarcar no trem. O que fiz? Corri também. Aqui aprendi que observação e adaptação é o melhor jeito de não parecer tão turista e vunerável.

Lá dentro percebi que todas as passagens tinham sido vendidas mesmo, os trens aqui são gigantes e com muitos lugares, todos cheios e minha viagem era de 1h. Mas, assim como na minha linha lá de Mauá da CPTM, por sorte, em menos de quatro estações vagou um lugar para curtir a vista. E que vista! Só não curti mais, porque o medo do desconhecido estava me consumindo. Estava tentando me camuflar, fazendo com que se parecesse turista, pelo menos que fosse uma turista argentina.

Uma hora depois e eu ainda tinha um ônibus para pegar e chegar à biblioteca. Os ônibus aqui só aceitam o Bilhete Único, que se chama Sube, ou moedas e troco é algo raro de se ver. Com o peso desvalorizado, as notas altas são a assombração dos vendedores. Mas felizmente, achei uma senhora simpática dona de um Kiosco, bombonieres comuns aqui na Argentina, que trocou meus 10 pesos por moedas. Outro detalhe do ônibus é que você paga por trecho percorrido, então assim que entra diz aonde irá descer para o motorista, ele calcula e te fala quanto tem que pagar. Com isso, ele já me ajudou onde eu teria que descer.

E depois de todo esse caminho, após perguntar indicações sobre a rua que tinha que ir, eis que não há nem asfalto no bairro. A expressão “sujar os sapatos”, que tenho repetido aqui deixou de ser apenas metáfora. E fui para lá, contei cuidadosamente as casas, voltei para cá, perguntei de novo e de novo e de novo, até que a terceira mulher que eu abordava na rua, Valéria, uma santa, me levou até o destino. Pedro Moreira foi minha primeira entrevista em Buenos Aires e não poderia ter sido melhor. Andar sozinha por uma cidade desconhecida, utilizar de todos os transportes públicos disponíveis e sair revigorada depois de um dia cansativo, com histórias em mãos e muitas outras idéias na mente.

#Dica: Nesse site dá para você calcular quais transportes públicos precisa pegar de um ponto a outro. É bem bacana e útil: http://www.viaja-facil.com/

 

Um primeiro dia e tanto

Apesar de termos chegado na quinta-feira a noite aqui em Buenos Aires, os trabalhos começaram mesmo hoje, ou ontem, ou não sei mais, porque para nós o dia rendeu e ainda não acabou.

Planejada, a cidade é feita para andar, ruas planas e quarteirões de 100 em 100 marcam a direção de todas as pessoas que circulam, muitos a pé, mas também pelos ônibus antigos e carros que engarrafam as ruas no mesmo estilo de São Paulo (sem exageros).

Logo pela manhã, com um frio de 9°, nosso grupo saiu para encontrar o correspondente Alejandro Rebossio do El País – com mais de 400 mil tiragens por dia, o que representa a maior tiragem da Espanha. O encontramos no escritório do grupo Prisa de comunicação há mais ou menos 10 quadras do nosso hotel. Corremos, porque erramos o lado do mapa, mas depois de nos localizarmos melhor e com ajuda dos, sim, simpáticos argentinos, conseguimos chegar ao nosso destino.

Conversa solta, duas horas foram pouco para o tanto de perguntas que tínhamos. Com as pautas já definidas, foi um bombardeio para saber o contexto de nossos temas, que só quem vive aqui consegue passar com tanta precisão. Economia, esporte, ditadura, indígenas, leis das mídias… Todas as pautas na mesa!

O tour que tivemos com o historiador Daniel Lucero durante a tarde foi um complemento ao bate-papo com Rebossio. Tudo o que estava apenas nos livros e nos jornais se tornou realidade para nós. A busca por justiça pelas famílias das vítimas do atentado à comunidade judaica há 20 anos que matou 85 pessoas chegou próximo a nós. O assunto não sai do noticiário e hoje teve manifestações das famílias, um deles na Plaza de Mayo, onde estivemos.

Inclusive, o local é um marco na história Argentina, porque é lá que até hoje ocorre a marcha das mães que tiveram seus filhos desaparecidos durante a última ditadura militar. Uma pressão em frente à Casa Rosada, sede do governo, para que, mais uma vez, haja justiça.

Passamos também pela Catedral, que guarda o corpo de San Martín, que junto com Bolívar, foi responsável pela libertação da América hispânica. E pelo Memorial de Evita Perón, para entendermos um pouco sobre o movimento Peronista. E digo um pouco, porque acredito que só sendo argentino para saber o quanto o movimento influencia na vida social e política do povo.

E mais de 2 mil caracteres depois, creio que já passei do limite. Foi um dia cheio, como disse, mas as expectativas foram se cumprindo e, melhor, se superando a cada minuto. Conhecendo gente e histórias encantadoras, que espero sejamos capazes de passar todo esse sentimento para o coração de vocês leitores.

Hasta mañana ou hoy, no se más. Em portunhol, claro!

Nossa, como ela cresceu!

Desde que sou pequena, digo, criança, já que tenho 1,58 há muitos anos, ouço as amigas da minha mãe dizerem: nossa, como ela está grande, mocinha. E isso até quando eu tinha apenas 4 anos.

Acredito que esses encontros estranhos com os amigos de nossas mães não devem ser exclusividade de filhos únicos como eu. É sempre igual oi_fulana_essa_é_minha_bebe!!!

Hoje presenciei cena parecida com uma menina altona, 16 anos, muito parecida com a mãe, que encontrou uma velha amiga da Cofap. E na primeira frase já tratou de falar que aquela_menina_bonita era a filhona dela. E eu já tratei de jogar um olhar de compreensão e “eu já passei por isso” à garota tímida.

Vários fatores conseguem piorar ainda mais esses momentos. Não sei a mãe de vocês, mas a minha me chama de bebê até hoje. Então, toda vez que os amigos dela nos encontram na rua, no trem ou sei lá aonde ficam chocados que o bebê em questão tem só 23 aninhos, namora e paga as próprias contas. É sempre engraçado vê-los procurando uma criança. Outra situação é quando a pessoa te viu no nascimento ou de passagem quando você tinha apenas 3 anos e sua mãe insiste em perguntar: Você não lembra dela? Te pegou no colo!

Mas é diante desse constrangimento, em que a gente quer se enfiar debaixo da saia da mãe literalmente, que descobrimos como nossas mães nos vêem. A minha não é muito de demonstrar sentimento ou me elogiar, mas toda vez que encontrávamos um desses amigos ela enchia a boca para contar que o bebê dela fazia jornalismo. Anos depois que trabalhava em um emissora de televisão. E agora que vai estudar no exterior. Por isso, dentro do meu olhar eu quis dizer pra filhona: calma, ela te ama demais e isso não é mico nenhum!

Alguém de sorte

Piiiiii…a porta se abre e ela entra com envelopes de papel lacrados nos braços. Quase não consegue carregá-los. Após uma rápida passada de olhos por todo o vagão ela sucumbi e senta-se em um dos bancos azuis. Os especiais. Ninguém a culparia, afinal ela mal se agüentava em pé com tanto peso.

Pelo formato dos tais envelopes era claro que havia muitos livros lá dentro. Mas afinal, você não vai abrir? Matar nossa curiosidade. Pensei, o mais alto que pude. Felizmente, funcionou. (Barulho de papel sendo rasgado)

Livros, como eu havia imaginado. Um, dois, três, seis, muitos. Não consegui ler nenhum dos títulos. Mas o cheiro, Ah! O cheiro… Era maravilhoso. Um deles, aparentemente um dicionário, era um dos mais antigos, com aquele velho cheiro velho. Todo o trem impregnado. Vermelho, capa dura, letras pequenas numa folha grande, do tamanho dos cadernos de brochura de antigamente.

Ao tirar dos envelopes ela foi colocando os dentro da mochila já pesava. Alguns tiveram que ir nos braços. Milhares de historias viajavam para alguém de sorte. Nunca esquecerei o aroma dele.

2013, um ano do caralho!

Sabe aquela expressão de mãe que diz “é caindo que se aprende”?! Pois é esse ano eu cai e aprendi e cai de novo e aprendi outra vez.

Termino o ano cheia de cicatrizes devido as pessoas que foram embora e ao trabalho duro. Mas são nesses momentos que somos mais amados. Os chegados pegaram minhas mãos e me ajudaram a levantar e limpar os joelhos.

Somos muito ansiosos e vamos vivendo e reclamando e xingando os deuses e os dias, mas só agora com uma certeza distância, fica evidente que foi um ano do caralho!

Formei, tive grandes responsabilidades como jornalista, conheci novos lugares tão bons quanto as novas pessoas, amei tão intensamente, me desprendi…nossa, como me desprendi, em vários aspectos. Como diz uma amiga, a Jéssica está no eterno “comigo não morreu”.

Ainda não aprendi o principal (promessa para 2014): limpar a mente. Porque apesar do desprendimento, o coração continuava preocupado. O tempo era livre, mas abarrotado de sentimentos confusos.

Foi uma encruzilhada esse 2013, eu não estava nem lá e nem cá. Estranho, mas cheguei a fazer um post sobre isso no início do ano. Falhei em tentar resolver o tal problema do hiato. Se é que é um problema, não?

Às vezes é bom se perder, logo eu que sempre fui a garota das certezas, pude me encher de dúvidas e evoluir. Não sei! Ainda estou a descobrir.

A metodologia do passaralho

Essa semana uma colega da faculdade levantou uma questão que parecia estar angustiando a todos, quase que secretamente. E aí recém-formados pela faculdade mais conceituada de jornalismo da América Latina, estão todos felizes e empregados? Para minha surpresa, não. Muitos estão desempregados ou trabalhando fora da área. E os que estão trabalhando, não veem perspectiva de crescimento. Suspirei aliviada porque fui efetivada pouco antes de me formar e aprendo a cada dia com situações que exigem de mim responsabilidade dobrada agora como jornalista de verdade. Mas não é por isso que me senti menos angustiada com toda essa triste realidade.

“O jornalismo está mudando” é um conceito ensinado há pelo menos uma década nas salas de aula. Afinal a internet não surgiu ontem, não é mesmo? Mas a incerteza de para onde estamos indo e como vamos pagar as contas até chegarmos em algum lugar, isso sim preocupa meus colegas. Fora essa sensação de impotência, como  meros espectadores desse movimento.

Apesar de acompanhar de perto, com depoimentos de amigos inclusive, as demissões em massa nas grandes redações (Folha, Estadão, Trip, Valor… e não são só os impressos, Record também demitiu e Rede TV ficou meses sem pagar os funcionários) me assustam. É óbvio que todas essas empresas são companhias assim como as de qualquer outro ramo de negócios. Nós, jornalismo, não somos blindados as alterações da economia, mas devíamos estar de alguma forma pensando em um novo jornalismo. Isso porque a fase de descoberta dos novos meios de comunicação já passou, não podemos mais usar a internet como vilão do jornalismo. Mesmo porque não é, a minha geração não saberia escrever uma boa reportagem sem o uso dessa ferramenta. Somos dos anos 1990 e já estamos formados lutando nesse tal de mercado.

Além disso, hoje lembrei do discurso de formatura de uma de nossas professoras, a Jurema Brasil. Ela queria que enxergássemos que somos trabalhadores, assim como os professores, os bancários,  os taxistas, somos uma classe. Mas não nos comportamos como uma. No discurso dela, lembro que disse que nós não estamos sendo menos profissionais por sairmos no nosso horário, por termos folgas aos finais de semana, por termos férias, por exigirmos melhores salários, por cobrarmos horas extras. O discurso dela chocou, porque somos jovens e aprendemos que jornalismo é varar a noite no fechamento, é fazer plantão em todos os feriados, é ganhar pouco, é trabalhar em um lugar e fazer freela para mais dez, é ser demitido e justificar isso pela falta de publicidade. E não reclamar! Afinal, não pensamos como classe trabalhadora. Jurema Brasil, mais uma vez você estava certa!

Renato Russo, Marcelo Rubens Paiva e um fim de semana qualquer

Sem nem usar flanela, estou aqui empurrando a poeira com a mão para dividir um pouco a reflexão e a nostalgia que o filme “Somos Tão Jovens” despertou em mim.

Sei que Legião Urbana é uma banda de amores ou ódios, mesmo assim expresso aqui na nuvem que, sim, sou da banda dos amores. Por isso, não fui capaz de segurar os pêlos que eriçaram de emoção em algumas cenas do filme. Para quem gosta da banda, é com certeza imperdível, porque as letras da Legião são tão abstratas que cada um cria seu próprio significado e conhecer o verdadeiro contexto é revelador.

No entanto, não estou aqui para destrinchar gostos – porque, como toda avó diz: gosto não se discute, cada um tem o seu. Estou aqui para falar da avalanche de memórias que guardamos junto com as músicas. Ao fim da sessão, eu e meu namorado não paramos de relembrar momentos que passamos com as músicas do Legião, do Capital Inicial – Deus sabe como quase furei o MTV Ao Vivo de tanto que escutei. E de várias outras bandas que gravávamos em fita K7 para poder escutar no momento que bem entendesse.

Não sou da geração Coca-Cola, mas sou do chocolate Surpresa e de Creed, Pitty, Charlie Brown Jr., Goo Goo Dolls, Eminem, Evanescence, CPM 22,  The Verve, Mamonas Assassinas,  Leoni, Cássia Eller, Raimundos, Planta e Raiz, Forrueiros… Nossa, poderia passar a noite aqui relembrando as bandas que rodavam no meu toca fitas e sonorizaram uma história.

Agora, só para esclarecer o porquê Marcelo Rubens Paiva entrou nessa conversa. Ontem, em sua coluna, ele defendeu a nossa geração musical, essa, a atual. E apesar da nostalgia que sinto hoje depois de uma overdose de Legião Urbana, eu concordo que nós menosprezamos a música nacional contemporânea. Nós, brasileiros, em vários aspectos nos inferiorizamos. Às vezes com razão, mas precisamos aprender a falar mais sobre o que temos de bom, ao invés de enaltecemos o ruim. Mesmo que a balança pende mais para o lado de cá.

Ou tudo isso seja porque eu gosto do Marcelo Rubens Paiva e, como direi um dia para os netos, gosto não se discute!

O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?

Durante os quatro anos da faculdade todo universitário não vê a hora da graduação. Mesmo sabendo que nos dias de hoje é preciso sempre se renovar e, por isso, os estudos nunca acabam, nós sonhamos com o fim da vida escolar, aquele momento em que as notas não serão mais importantes e a pressão em ser alguém no mundo, se Deus quiser, não irá mais existir.

E o que parecia ser uma eternidade, de repente, chega ao fim. Quinze anos de estudos – no meu caso dezenove, porque com mãe solteira tive que ir para escola no alto dos meus dois anos de idade, e isso tudo é assunto para outro post.

Acontece que o fatídico ano do TCC chegou e passou, rápido demais! E sabe aquela história de que depois da faculdade a gente sente falta? Sempre duvidei disso, mas o fato se tornou realidade antes mesmo do que eu esperava.

Ver o fim de janeiro chegar e não ter que comprar material escolar novinho e cheiroso ou precisar trocar uma agenda – sempre tão útil durante a faculdade – por falta de compromisso para escrever nela, foram coisas realmente estranhas.

Durante alguns dias cheguei a ficar meio paranóica com a falta de compromissos. Mas isso acabou quando em menos de um mês consegui ler pelo menos três livros. Nesses quatro anos de faculdade tive ótimos livros obrigatórios, mas o adjetivo “obrigatório” tirava todo o encanto que uma leitura poderia ter. Por isso que, nesse período de conhecimento da liberdade, percebi que pela primeira vez leio sem pressão, me deixo saborear cada palavra e posso até me deixar levar pelos bestsellers!!

Pretendo voltar a estudar só ano que vem e não sei se essa empolgação irá durar até lá. No entanto, já descobri que tenho tempo suficiente para me redescobrir, inclusive nem me lembro como é que se faz isso. Mas não tem problema, minha agenda esta vazia para novas maneiras de aprendizado. Ops, mas que agenda? Troquei ela por mais um livro!

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Sobre estar consigo mesmo!

A Bahia de Jorge Amado

No primeiro ano da faculdade, saia do trabalho às 13h e só entrava na faculdade  às 19h, devido à distância da minha casa – para quem não sabe, moro em Mauá – passava essas 6 horas ziguezagueando pela avenida Paulista. Era bem cansativo, tinha muita saudades dos meus amigos do colégio, sentia falta do ar saudável da minha cidade, da comida da minha avó. Era quase tudo ruim, exceto porque eu aprendi muito sobre mim mesma naquele ano!

Algumas vezes eu já tinha me desafiado a ir sozinha ao cinema, mas chegava no shopping e via todos aqueles casais e amigos e ficava com tanta vergonha do que as pessoas iriam pensar “Será que ela levou um bolo?”, “Será que ela terminou com  aquele namoro de trezentos anos?”. Acontece que quando comecei a “viver” em São Paulo, eu percebi que as pessoas vão ao cinema sozinhas e, afinal, eu tinha seis malditas horas de nada. Até que um professor pediu um trabalho relacionado ao filme “Entre os muros da escola”, de Laurent Cantet. Até cheguei a convidar alguns amigos, mas sem sucesso. Foi ai que tive minha primeira experiência de cinema sozinha. A minha surpresa? Foi ótimo!

A sala escura e – na maioria das tardes paulistas – vazias  e uma surpresa à espera. Teve sessões que sai decepcionada, teve outras que chorei em silêncio e até aquelas que gargalhei sozinha, ou melhor, acompanhada de mim mesma. Só eu e meus julgamentos, eu e minhas lembranças, eu e minhas decisões.

Acontece que depois que mudei de emprego, poucas vezes repeti esse tipo de experiência. Saia todos os dias do trabalho e paquerava a programação do cinema, planejando … Mas, infelizmente, voltei aos velhos medos. Hoje, deixei de planejar e decidi passar um dia comigo. Até tentei chamar uma amiga – velhos medos – mas, ela não pode. Talvez aquele tal destino tenha percebido o quanto eu precisava deste dia.

Fui ver à exposição do Jorge Amado no Museu da Língua Portuguesa. Aprendi mais sobre minha própria profissão. Entrei em todos os espaços da Pinacoteca – vergonhosamente, pela primeira vez. Conheci as obras do artista venezuelano Carlos Cruz-Diez. Me apaixonei, sorri, fiquei andando de trás para frente e vice-versa para pegar o melhor ângulo de todas aquelas formas e cores. Tomei um cappuccino na fria tarde paulistana com vista para o Parque da Luz e, por fim, fui ao cinema. De rua, assistir Walter Salles e rir e se emocionar e se descobrir em detalhes. Quando nos descobrimos ser nossa melhor companhia é porque algo está incrivelmente certo!

Aroma mágico

Admiro muito quem saiba e ame cozinhar, primeiro porque a comida dessas pessoas é sempre maravilhosa, segundo porque sinto um pouco de inveja. A comida da minha avó é deliciosa, mas é o básico arroz, feijão e carne de panela, já a minha mãe tem uma mão boa para doces, mas também nada que me inspirasse a cozinhar por prazer. Sempre foi aquela obrigação! Acontece que eu cresci e o google surgiu – sim, conseguíamos viver sem ele – e foi aí que eu passei a me aventurar na cozinha.

Não é sempre, preciso estar sozinha e às vezes tudo dá errado, mas quando dá certo. Ahhhhh, que prazer!

Nos dias que a mágica acontece, geralmente acordo meio de saco cheio da comida do dia a dia. Então dou uma olhada nos ingredientes que tenho na geladeira e no armário, volto para o computador e digito o nome da minha matéria prima principal na busca por receitas: “Bisteca”, “Patinho”, “Frango Xadrez”, “Strogonoff”. Faço uma análise de todas, escolha uma e mãos a obra.

Primeiro faço uma seleção da trilha sonora, escolho músicas fofas e animadas, porque é pura verdade o que os culinaristas dizem sobre cozinhar com amor. Sempre que tento fazer algo às pressas ou com raiva a comida fica terrível, tudo sai do ponto!

Depois de separados os ingredientes, hora do show. Como não tenho o dom da gastronomia, sigo a risca todas as instruções. É aí que a mágica acontece: o cheiro de cebola queimando, o aroma do cominho, o sabor da batata assada, a textura do chantilly. E com muita paciência e amor, os ingredientes deixam suas características únicas para tornarem-se uma peça só. Uma combinação perfeita!

É triste quando a experiência não dá certo, frustração culinária é uma das coisas que destrói o dia por completo. Agora os dias que dão certo me sinto orgulhosa. Gosto de cozinhar para mim, mas às vezes me gabo chamando ele ou amigas de longa data – acabo sendo um pouco covarde por isso, afinal sei que se ficar ruim eles irão tirar sarro da minha cara e nada mais.

A experiência é  uma terapia, que super indico a todos. Não tenha medo, se der errado o máximo que vai acontecer é rolar uma decepção e ter que comer algo ruim. Tudo bem superável! Acredite em mim, as alegrias do sucesso serão inesquecíveis!